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quarta-feira, 1 de junho de 2011

A DAMA DE PRETO

A DAMA DE PRETO


         Conheceram-se de maneira informal, frequentemente via-na passar trajada de preto e salto alto na avenida da marginal em plena manhã de labuta, a brisa, sorrateiramente cambaleava os parcos panos que jaziam em seu corpo esbelto denunciando amiúde magnificência interna, para completar a indumentária, socorria-se a um cachecol veludo de riscas pretas, deduziu primeiramente que ela estava de nojo, todavia, após matutar um pouquinho a cachimónia lembrou-se estar perante a uma jovem moderna e naquela altura as tendências variavam mediante as estações, razão mais do que suficiente para dar uma caprichada no loock, decote acelerado, deixando duas belas tumbas em promoção, reluzindo freneticamente aos chamamentos do astro rei, era capaz de vuzar dois satélites em órbita, por mais forte que fosse a guarda não há quem o resista, maravilha incomensurável. Contudo não fez caso, decidiu apenas dedicar-se em pintar o futuro, ao lado da sua amada da marginal, pelo que imaginou:
         Juntinhos a passear, mãos entrelaçadas, o coração a cantar em dó maior, a tristeza, envergonhada, seroava em terras distantes, seria injusta a presença da dor naquele mesmo instante, tentou assobiá-la, a ideia, desapareceu como um trovão, escasseava-lhe a força para engendrar tão nobre plano, ficou só no tentar, mais nada,  contentava-se pelo simples facto de vê-la passar todos os dias com as mesmas vestes como se de um uniforme se tratasse, chegou a indagar-se sobre aquela forma peculiar de se paramentar, era a única que havia no guarda-roupa? Ou a eleita aos dias de serviço, mas, que tipo de trabalho combinava com aquela saia, deixa estar se a gosto é por vê-la sempre assim. Custa-me crer o que será de mim se ela mudar de visual, serei capaz de a reconhecer, ademais como se sente o piloto sortudo com a responsabilidade de por a funcionar diariamente esta esplêndida nave, nem quero pensar na ignição decorada e revestida de pequenas pedrinhas negras, sonegando cuidadosamente a lamparina que não é preta, sim vermelha avermelhada, em posição de guarda vai prontamente decidindo o momento de partida, deixa estar como me atrevo a tal ignomínia estou a ser cruel com a minha papoila, mas será que ela importar-se-á comigo, nestas condições, mal consigo me pôr em pé quanto mais chegar perto a se arrastar que nem um caranguejo, prefiro mil vezes contempla-la aqui do primeiro andar sem que veja nem contesta a minha condição física, ai minha vida malfadada, será que tenho uma chance de um dia tocar ao mínimo a sua pele?
         O tempo foi passando a rotina continuava até que um dia resolveu finalmente colocar o seu desígnio em forja, pediu ao irmão mais novo que a seguisse e descobrisse em que área trabalhava e a razão de apresentar sempre um traje excêntrico, o rapaz não acreditou no que viu, estudava a ocasião pra poder explicar ao mano o que os seus olhos acabaram de presenciar, perdeu coragem, embusteou-o com pena de tira-lo o ensejo que tanto sonhara. Propusera-se em leva-lo a um passeio antes de desvendar a mola oculta que suportava aquela nave, a banda escolhida foi a ilha de Luanda local de todos os acontecimentos onde cada um busca o que pode desde lazer, prazer e adrenalina, também fazem-se bons negócios qualquer que seja vendia-se absolutamente tudo, a ilha humilde e acolhedora preparava-se para testemunhar o encontro mediático de dois seres que se conheciam no desconhecimento de suas vidas.
         Nkhossi, era assim que se chamava, deambulava ilha abaixo na companhia de seu irmão quando deliberadamente foi ter a uma senhora. Dona quanto custa o mufete, com batata e salada é oitocentos simples custa apenas quinhentos kuanzas, mãe dá dois compostos e bem abonado, não há makas meu filho. O pedido foi concedido com rigor e sem cerimónias. Após paparem dois saborosos mufetes a maneira da ilha, começaram a caçada rumo a descoberta de sua amada não foi necessário andar muito a dama de preto estava justamente a escassos metros de si, meu Deus é essa a vida que ela leva! A ansiedade apoderava-se do seu pobre coração. Não sei se suportarei a vida que ela leva, tenho forças suficientes? Não sei contudo vou tentar antes tarde do que nunca, com ajuda da sua cadeirinha foi lentamente juntar-se a turminha da sua musa da marginal ladeada de vinte criancinhas órfãs de pais seropositivos, felizmente todas elas livres deste ceifador de vidas. Escutou atenciosamente os ensinamentos e trocaram impressões…




Autor: Ndakayesunga
In “experiência literária”
Outubro de 2010
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Email: bocoma85@hotmail.com  - bocomanegocio@hotmail.
Fernando Bocoma Pereira Negócio


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